O presidente da Câmara, Hugo Motta, não se cansa de mostrar quem é. No episódio de hoje envolvendo Glauber Braga, ele abandonou qualquer aparência de equilíbrio institucional e adotou o método que parece lhe agradar: violência, censura e intimidação. O mesmo Hugo Motta que, neste ano, deixou deputados bolsonaristas ocuparem a Mesa Diretora por dias, travarem a Casa e transformarem o plenário em palanque, agora mandou a Polícia Legislativa arrancar um parlamentar pelo pescoço, cortar o sinal da TV Câmara e expulsar jornalistas a pontapés.
É impossível não enxergar a contradição gritante. Quando a extrema-direita ocupou a Mesa, Hugo Motta virou estadista: pediu calma, tentou negociar, deixou os ânimos esfriarem, não houve mata-leão, não houve grito. O regimento, ali, foi tratado como sugestão, não como regra. A força institucional foi usada com parcimônia, quase timidez.
Mas quando o protesto veio da esquerda, de um deputado que ousou confrontar sua condução política, Motta virou outro homem. Um homem agressivo, autoritário, disposto a usar a estrutura da Câmara como arma política. Glauber Braga não tinha direito de sentar na cadeira da Presidência, isso é fato, mas desde quando irregularidade simbólica vira justificativa para estrangular deputado no plenário e censurar a imprensa?
O que mudou entre um caso e outro? Não foi o regimento. Não foi a gravidade objetiva das ações. O que mudou foi o alvo. Hugo Motta é tolerante com quem lhe convém e brutal com quem lhe desafia. Com os bolsonaristas, abriu diálogo. Com Glauber, abriu caminho para a polícia agir com violência. Com a direita, conversa. Com a esquerda, cacete. É uma lógica que não tem nada de institucional. É puramente política.
A parte mais repugnante de sua postura, porém, é a tentativa de calar o país. Mandar expulsar jornalistas, cortar a transmissão oficial e permitir que profissionais da imprensa fossem agredidos é prática de quem teme transparência. É prática de gente que só se sustenta quando a luz apaga. É prática de censura. E Motta precisa ser chamado pelo que se tornou: um presidente censurador.
A Câmara dos Deputados não é quartel, não é trincheira de guerra particular, não é espaço onde um presidente resolve seus desafetos na base da truculência. É a Casa do povo. Mas Hugo Motta parece ter entendido o papel de forma diferente: para ele, é seu feudo pessoal, onde escolhe quem pode protestar e quem deve ser arrastado pelos corredores.
A democracia exige coerência. Exige que o presidente da Câmara trate todos os parlamentares com o mesmo rigor ou a mesma tolerância. Hugo Motta não fez nem uma coisa nem outra. Preferiu usar a força seletiva, a repressão conveniente e a censura descarada.
E o país inteiro viu.
Por Feliphe Rojas





