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Folha de SP diz que PT mira eleger dois deputados na Paraíba em meio a racha que fragiliza grupo de Hugo Motta

O tabuleiro político para 2026 na Paraíba começa a se reorganizar sob tensão, recados públicos e quebra de acordos internos. A mudança partidária do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que deixará o PP para se filiar ao MDB e disputar o Governo do Estado, detonou uma crise no arco de alianças comandado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, e expôs fissuras entre grupos do centrão, aliados de Lula e o campo bolsonarista. No meio desse rearranjo, a Folha de S.Paulo afirma que o PT trabalha silenciosamente com um objetivo claro: eleger dois deputados federais no estado, reforçando a base de Lula num possível novo mandato.

A ida de Cícero para o MDB implodiu a unidade que Motta e aliados pregavam na base governista. A chapa acertada até então previa João Azevêdo candidato ao Senado e Nabor Wanderley, pai de Hugo Motta, como o outro nome ao Senado. João deixa o governo em abril para entrar na disputa, enquanto Motta permanecerá na reeleição para tentar novo mandato na presidência da Câmara. O movimento do prefeito da capital desmontou esse arranjo. Cícero quer enfrentar nas urnas o atual vice-governador, Lucas Ribeiro, sobrinho de Aguinaldo Ribeiro, um dos líderes nacionais do PP e nome forte do centrão no Congresso. A articulação irritou Aguinaldo, que passou a aliados a sensação de ter sido traído, lembrando que o PP foi quem resgatou Cícero politicamente em 2020.

O caminho ao Senado também se tornou mais acirrado. Além de Nabor Wanderley, disputam as duas vagas Veneziano Vital do Rêgo, aliado direto de Lula, e o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, candidato do bolsonarismo. Veneziano tenta quebrar um tabu que dura quase três décadas: nenhum senador paraibano conseguiu reeleição desde 1998. Apesar de enfrentar resistências locais e ter dificuldades para montar palanque próprio, a chegada de Cícero ao MDB deve unificar o campo lulista em torno dele e de João Azevêdo. Queiroga aposta no voto ideológico e já alfinetou os adversários, afirmando que Veneziano e Nabor comandam um “trem da alegria de emendas”, enquanto ele representa “o verbo”.

Do lado da direita, o senador Efraim Filho deve ser o candidato a governador apoiado pelo PL. O parlamentar já rompeu com o governo Lula e recebeu o aval de Michelle Bolsonaro para se aproximar de vez do bolsonarismo. A expectativa é que a divisão do campo governista favoreça sua ida ao segundo turno. Há chance de Efraim migrar para o PL se a federação União Brasil–PP avançar e o comando na Paraíba ficar com o grupo de Aguinaldo e Lucas Ribeiro.

Outro ator decisivo será o PSD, liderado pelo ex-deputado Pedro Cunha Lima. Ele conversa tanto com Cícero quanto com Efraim e pode compor como vice em uma das chapas. A decisão deve ser tomada em conjunto com o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, até janeiro. Caso feche com Cícero, o MDB garantirá apoio das máquinas políticas das duas maiores cidades do estado, João Pessoa e Campina Grande. Com a saída de Cícero, quem assume a Prefeitura da capital é Léo Bezerra, que já declarou apoio ao movimento.

Lucas Ribeiro, por sua vez, terá o peso da máquina estadual a seu favor. O PP, o PSB e o Republicanos, juntos, elegeram 139 dos 223 prefeitos da Paraíba em 2024 e devem mobilizar essa estrutura na campanha.

Enquanto Cícero e Lucas disputam o apoio do PT, os petistas têm uma prioridade diferente: garantir a eleição de dois deputados federais, ampliando a presença do partido na bancada paraibana. Um dos nomes será o ex-governador Ricardo Coutinho, que tenta voltar ao protagonismo após anos de desgaste político e jurídico. Atualmente, o PT tem apenas um deputado federal no estado e busca fortalecer a base de Lula no Congresso em 2026.

No xadrez paraibano, cada movimento abre uma fenda ou cria uma ponte. A filiação de Cícero, a irritação de Aguinaldo, a corrida pelo Senado, a estrutura do governo estadual, a ambição do bolsonarismo e o cálculo do PT formam um cenário de racha, competição intensa e reorganização profunda. A costura que parecia consolidada até 2024 virou disputa aberta em quase todas as frentes de poder.

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