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Máfia das dispensas na gestão Bruno, em Campina Grande? Contratos sem licitação e indícios de irregularidades na Saúde levantam suspeitas de esquema milionário

Campina Grande pode estar diante de um novo escândalo envolvendo contratos públicos e possíveis irregularidades na administração municipal. Levantamento realizado pela reportagem, com base em documentos do Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP), SAGRES e Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB), aponta que empresas ligadas entre si receberam mais de R$ 12 milhões em contratos sem licitação entre 2023 e 2025, durante a gestão do prefeito Bruno Cunha Lima.

Os dados indicam que cinco empresas distintas, mas possivelmente controladas por um mesmo grupo, firmaram contratos com a Prefeitura sob justificativas de emergência ou reconhecimento de dívida. A maioria dessas contratações ocorreu na Secretaria Municipal de Saúde, setor que já é alvo de duas ações civis públicas do Ministério Público da Paraíba (MPPB).

Apurações mostram que o núcleo dessas empresas tem ligação com a empresária Elayne Mariano Oliveira, administradora da HPE Holding Participações LTDA. Documentos públicos revelam que ela aparece como responsável direta ou indireta por companhias que receberam contratos milionários sem processo licitatório. Elayne é esposa de um assessor de alto escalão do gabinete do prefeito, o que, se confirmado, configuraria conflito de interesse e favorecimento político.

Os registros também apontam que a HPE Holding está sediada em um imóvel residencial no bairro São José, sem estrutura de sede empresarial. O mesmo ocorre com a Lavamedi Pro Serviços, Consultoria e Atendimento Hospitalar LTDA, que funciona em uma casa simples no bairro Jardim Tavares. Ambas as empresas, segundo os documentos, não apresentam capacidade técnica ou operacional compatível com os serviços contratados, levantando suspeita de se tratarem de empresas de fachada.

Entre os contratos sob investigação, destacam-se: Ampla Service, com R$ 4,5 milhões para lavanderia hospitalar; Lavamedi, com R$ 3,2 milhões para o mesmo serviço; Unique Comércio Varejista de Alimentos, com mais de R$ 3 milhões em fornecimento de hortifrúti; e Total Construtora, com cerca de R$ 1,5 milhão em obras e manutenção predial.

O caso da Lavamedi é apontado como o mais emblemático. A empresa foi criada em dezembro de 2024 e assinou contrato com a Secretaria de Saúde poucos dias depois, sem tempo hábil para comprovar experiência técnica. Mesmo recém-constituída, recebeu R$ 3,2 milhões em 2025, a maior parte por reconhecimento de dívida. O CNPJ da Lavamedi inclui mais de 20 atividades econômicas distintas, que vão de publicidade a produção artística, com lavanderia hospitalar listada apenas como uma entre várias.

De acordo com o site Poder PB, o endereço residencial da empresa não possui maquinário ou estrutura industrial. Mesmo assim, a Lavamedi obteve licenças sanitárias e ambientais em tempo recorde, o que levantou suspeitas sobre flexibilização de exigências técnicas.

Documentos analisados pela reportagem sugerem um padrão recorrente na administração municipal: contratos essenciais eram deixados vencer, a Prefeitura declarava “emergência administrativa” e contratava as mesmas empresas — ou outras com vínculos entre si — sem concorrência pública. Parte dos pagamentos era feita por reconhecimento de dívida, dificultando auditorias e rastreamento de valores.

Se confirmadas as irregularidades, as práticas podem se enquadrar em fraudes à licitação, dispensa indevida, improbidade administrativa, conflito de interesse, organização criminosa e até lavagem de dinheiro. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal poderão abrir investigação caso sejam identificadas verbas da União nesses contratos.

O escândalo surge em meio à pior crise da saúde pública de Campina Grande nos últimos anos, marcada por atrasos salariais, denúncias de sucateamento e processos judiciais. A população cobra uma auditoria ampla nos contratos da Prefeitura, especialmente os firmados sem licitação.

Caso seja comprovado que o núcleo administrativo da gestão Bruno Cunha Lima sustentou um sistema de contratações diretas e repetidas, Campina Grande poderá estar diante de um dos maiores esquemas de corrupção administrativa de sua história recente.

O Poder PB segue com o espaço aberto para eventual manifestação do prefeito de Campina Grande.

Confira os documentos:

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