A política paraibana vive um daqueles momentos em que o silêncio dos bastidores fala mais alto do que qualquer discurso público. Enquanto João Azevêdo ainda ostenta o poder da caneta, seus aliados mais próximos já desenham um novo mapa de alianças – e, curiosamente, esse mapa não o coloca mais no centro.
Hugo Motta foi o primeiro a perceber que a corrida pelo Senado em 2026 tem um terreno desigual. Veneziano Vital do Rêgo, com o apoio direto de Lula, do irmão Vitalzinho, presidente do TCU, além de uma enxurrada de emendas federais, já consolidou sua vaga. Lula definiu seu candidato prioritário na Paraíba – e não é João.
Diante desse cenário, Hugo mudou o foco. Se uma cadeira no Senado já tem dono, a outra precisa ser conquistada com antecedência. E é aí que entra o novo projeto: eleger seu pai, Nabor Wanderley, “na boa”, com ampla base e alianças atravessando o campo governista e oposicionista.
A jogada foi sutil, mas poderosa. Efraim Filho, que até outro dia estava fechado com Marcelo Queiroga, já mudou o discurso e agora apoia Nabor. O movimento revela algo maior: Hugo e Aguinaldo Ribeiro estão alinhados, costurando apoios entre prefeitos, deputados e lideranças de todos os lados – até entre os descontentes com João.
Ou seja, a “grande costura” já começou com João ainda no poder. Agora, imagine o que acontecerá quando ele deixar o governo para disputar o Senado e a caneta passar para Lucas Ribeiro, vice e sobrinho de Aguinaldo.
Se com João de caneta na mão os acordos já estão sendo feitos nas sombras, quando o poder mudar de mãos, o governador corre o risco de ficar isolado – assistindo de fora a um jogo que, ironicamente, começou dentro de sua própria base.
A verdade é que o projeto dos Ribeiro e dos Motta não é apenas de 2026 – é de longo prazo. E João, que um dia foi o símbolo da renovação, pode acabar sendo apenas mais uma peça descartável no xadrez político que ele mesmo ajudou a montar.





