Enquanto o governador João Azevêdo curte férias na Europa, o cenário político na Paraíba segue em ebulição – e cada dia mais distante de seu comando. O chefe do Executivo parece ter perdido o controle da própria base, que age de forma independente, negocia por conta própria e já não se sente obrigada a seguir orientações vindas do Palácio da Redenção.
No Vale do Mamanguape, a cena fala por si: dois prefeitos antes ligados ao governo, Tiago Lisboa (Capim) e Batista Torres (Itapororoca), anunciaram apoio à dobradinha Veneziano Vital e Nabor Wanderley, com as bênçãos de Hugo Motta. A mensagem foi direta – o governador não dita mais o rumo das alianças. Enquanto João pousa para fotos em cidades europeias, os aliados pousam em novos palanques.
A desarticulação é tamanha que, nas festas políticas, a oposição parece mais à vontade do que a própria base. A celebração de aniversário de Adriano Galdino, por exemplo, foi dominada por líderes de diferentes campos, enquanto o governador mantinha o silêncio de quem parece já não disputar espaço nem prestígio.
Mas o retrato mais simbólico dessa perda de comando está na disputa pela vaga no Tribunal de Contas do Estado. João indicou o nome de Deusdete Filho, considerado seu “supersecretário” e homem de confiança, e partiu para a Europa logo em seguida – como se a escolha já estivesse garantida. Não estava. Enquanto o governador descansava, o deputado Taciano Diniz costurou apoios e, hoje, já tem mais votos declarados que o indicado oficial do governo.
Em outras palavras: João não apenas perdeu o controle da base, perdeu também a capacidade de conduzir sua própria articulação. Os deputados governistas, órfãos de direção, passaram a agir conforme os ventos políticos, em busca de proteção em outras lideranças, de Hugo Motta a Adriano Galdino, passando por Efraim Filho, pré-candidato a governador da oposição, que nos bastidores negocia apoio a Nabor Wanderley – da chapa de João.
O governador, que sempre fez questão de se mostrar leal aos seus aliados, agora colhe o resultado de uma lealdade que não é recíproca. João segue fiel, mas sozinho. Sua base, antes sólida, virou um mosaico de interesses, cada qual mais distante do centro que deveria unificá-los.
Enquanto o governador admira as paisagens europeias, a paisagem política da Paraíba se redesenha sem sua mão no compasso. Quando voltar, talvez encontre menos aliados e mais candidatos – e descubra, tarde demais, que na política quem sai de cena nem sempre volta para o mesmo palco.





