Chamar de “traição” a decisão do prefeito Cícero Lucena de seguir um novo rumo político é uma leitura rasa da realidade. Não houve ruptura, houve coerência. Cícero mantém o compromisso de votar e apoiar João Azevêdo para o Senado. Isso não é trair – é exercer autonomia política.
A senadora Daniella Ribeiro, ao acusar o prefeito de “traição covarde e traiçoeira”, ignora que política não é servidão, é escolha. Cícero foi leal enquanto houve respeito e espaço. Quando o partido passou a servir a interesses familiares, buscou um caminho legítimo, mantendo o mesmo propósito de servir à Paraíba.
Curioso é que aliados históricos da própria família Ribeiro, como o prefeito José Ademir, declararam voto em outros nomes — Nabor Wanderley e Veneziano Vital do Rêgo – sem que ninguém os chamasse de traidores. Por que apenas Cícero deve carregar esse fardo?
E se o assunto é traição, talvez fosse bom olhar pra dentro de casa. Aguinaldo Ribeiro foi ministro de Dilma Rousseff, tinha a confiança e o carinho da presidente, contava votos contra o impeachment – e terminou votando pela queda dela. João Azevêdo, por sua vez, rompeu com Ricardo Coutinho, que o lançou na política e o fez governador.
O prefeito de João Pessoa lidera as pesquisas, tem gestão aprovada e se mostra o nome mais viável para a sucessão estadual. Traição seria enganar o eleitor fingindo que está tudo bem dentro de um projeto que já não o contempla.
Cícero não virou as costas para ninguém. Apenas deixou de andar de cabeça baixa.