Depois de muito silêncio, João Azevêdo (PSB) finalmente se pronunciou sobre as PECs da Blindagem e da Anistia, que levaram milhares às ruas no último domingo em João Pessoa, Campina Grande e em todas as capitais brasileiras. E o governador não economizou nas palavras:
“Foi muito importante que a população tivesse se posicionado, até porque essas duas PECs, eu já disse isso publicamente, elas vão de encontro a uma, eu diria no mínimo, do bom senso. Você não pode ter a criação de caixas de pessoas privilegiadas.”
Até aqui, perfeito. João ecoa a indignação das ruas e se coloca no campo do bom senso. O problema é o detalhe incômodo que acompanha esse discurso: o maior patrocinador das tais PECs é justamente o seu aliado mais próximo, Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara dos Deputados. Foi ele quem pautou a urgência da PEC da Anistia e conduziu a aprovação da PEC da Blindagem.
Ou seja, João condena o remédio, mas continua de mãos dadas com o farmacêutico. E não só com Hugo: o Republicanos inteiro segue peça-chave da engrenagem eleitoral que o governador articula para 2026, com Lucas Ribeiro (PP) a governador e Nabor Wanderley (Republicanos), pai de Hugo, como pré-candidato ao Senado.
Fica a pergunta inevitável: até onde vai essa convivência entre o discurso e a prática? Como João pode se apresentar como crítico das PECs e, ao mesmo tempo, depender politicamente de quem as defende?
João tenta equilibrar-se num palanque em que o PSB se mistura ao Republicanos como se não houvesse contradição. Mas, nesse jogo, ou ele perde a autoridade moral do discurso ou arrisca estremecer a aliança que sustenta seu projeto ao Senado.
Perguntar não ofende: com esse discurso contra as PECs, como João Azevêdo pode continuar aliado de Hugo Motta e do Republicanos?