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Saiba quem é o juiz paraibano acusado de beneficiar esquema que lesou 100 mil aposentados no estado

O juiz paraibano Glauco Coutinho Marques, que atuava na comarca de Gurinhém, a cerca de 70 km de João Pessoa, é apontado como peça-chave em um esquema que teria provocado prejuízos milionários a aposentados e pensionistas em todo o país. Glauco é alvo da operação Retomada, do Ministério Público da Paraíba (MPPB), e foi afastado cautelarmente de suas funções no fim de 2024. A apuração é do jornalista Fabio Serapião, do Metropoles.

Segundo documentos da investigação, conduzida pelo Gaeco em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), Glauco aparece como “figura central” de uma suposta rede que manipulava decisões judiciais para beneficiar associações fraudulentas e escritórios de advocacia. A prática teria causado descontos indevidos em contracheques de cerca de 100 mil aposentados e pensionistas, com um impacto estimado de R$ 126 milhões.

Um episódio que chamou a atenção dos investigadores foi a chamada “decisão relâmpago” proferida por Glauco: em um sábado, 8 de junho de 2024, ele analisou e sentenciou um processo em apenas 16 minutos — das 11h10 às 11h26. A velocidade incomum reforçou as suspeitas sobre o favorecimento intencional a um grupo já sob investigação.

O esquema, segundo o Gaeco, envolvia a prática conhecida como forum shopping — a escolha proposital de varas específicas onde havia maior chance de decisões favoráveis. A comarca de Gurinhém, onde Glauco atuava, foi uma das preferidas pelo grupo, que ajuizou 230 ações coletivas em nome de 11 associações fictícias.

A articulação com o magistrado, de acordo com os autos, seria liderada por Hilton Neto, advogado apontado como intermediador entre o juiz e os demais operadores do esquema. Em troca de favores judiciais, Hilton teria quitado uma dívida de R$ 14 mil do juiz com um servidor, além de usar “laranjas” para entregar vantagens financeiras. Um cartão de crédito do servidor, inclusive, foi encontrado na casa de Glauco durante busca e apreensão.

Além da anulação de consignados e exclusão de negativação em cadastros como o Serasa, o grupo também usava decisões judiciais para reativar créditos de programas de milhagem de companhias aéreas. A estratégia permitia liberar margem para novos empréstimos, lesando ainda mais os beneficiários envolvidos.

A CGU identificou que as associações funcionavam como instituições financeiras clandestinas, com contratos abusivos disfarçados de mensalidades por “serviços inexistentes”. Os alvos principais eram idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade.

O que diz a defesa

A defesa do juiz Glauco Marques, representada pelo advogado Inácio Queiroz, nega todas as acusações e afirma que o magistrado sempre se colocou à disposição da Justiça. Segundo ele, “não há uma única prova ou mesmo indício de relação próxima ou afetuosa entre o juiz e os advogados das associações investigadas”.

O advogado também destacou que muitas das decisões de Glauco, como liminares e homologações de acordos, não foram derrubadas pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. E, mesmo após diversas medidas cautelares e buscas, a defesa afirma que nenhuma movimentação financeira suspeita ou troca de mensagens comprometedoras foi encontrada.

O caso segue sob sigilo judicial e é acompanhado com atenção pelos órgãos de controle e pela magistratura paraibana.

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