Em entrevista concedida à Rádio Marmaraú FM 104.9, o ex-governador da Paraíba, ex-prefeito de João Pessoa e pré-candidato a deputado federal, Ricardo Coutinho (PT), fez um balanço de sua trajetória política, defendeu o governo do presidente Lula, criticou a gestão estadual e cobrou coerência dos aliados que participam do governo federal, mas evitam se posicionar publicamente em sua defesa.
Ricardo afirmou que sugeriu sua candidatura à Câmara Federal com o objetivo de deixar o presidente Lula e a direção nacional do PT livres para compor os apoios mais estratégicos para o partido em 2026. “Tenho minhas ideias, mas preferi sair da frente para permitir isso. Porque, para mim, o mais importante é não permitir o retorno da extrema-direita”, justificou.
Na entrevista, ele teceu duras críticas ao governo de Jair Bolsonaro, apontando a ausência de investimentos em infraestrutura e educação durante os quatro anos de gestão. “Você não vai encontrar uma rodovia inaugurada, um hospital construído, uma universidade feita. Você não vai encontrar sequer um IF. Lula está fazendo 102 IFs. Isso é uma diferença imensa”, comparou.
Ricardo também voltou a criticar o governador João Azevêdo (PSB), a quem atribui “falta de caráter político”. Ele afirmou não votar em João, ainda que já tenha feito alianças com diversos setores. “Só não mudo uma coisa: meu modo de pensar e meu modo de agir. Isso eu não mudo”, disse. E acrescentou: “A divergência com o estado foi, exatamente, por questões de caráter”.
Ao relatar sua trajetória política, desde os tempos de vereador até sua passagem como prefeito e governador, Coutinho destacou a coerência como marca de sua atuação. “Claro que a gente aprende, mas as linhas centrais são idênticas”, afirmou.
Ele aproveitou para citar problemas estruturais e de gestão no atual governo da Paraíba, como a não conclusão de obras viárias e o incêndio no Hospital de Trauma de João Pessoa. “Até 2018, o Trauma tinha manutenção periódica. Hoje, parece que não pensam nem nos funcionários, nem nos pacientes”, criticou.
Críticas à base de Lula
O ex-governador também cobrou posicionamento mais claro de parlamentares e gestores que ocupam cargos no governo Lula, mas não o defendem publicamente. Sem citar diretamente nomes em muitos momentos, ele criticou a postura de aliados que, segundo ele, se beneficiam do governo, mas se mantêm omissos.
“Não pode querer só as benesses e, por outro lado, jogar contra. Lula, na última eleição, falou diretamente sobre João Azevêdo. Se houver um pedido do presidente para que o PT apoie integralmente a base de João, ainda que ele não seja mais candidato ao governo, mas ao Senado, eu tenho objeção de consciência”, declarou.
Ricardo ainda mencionou o senador Efraim Filho (União Brasil), cobrando dele uma defesa pública do governo federal. “Indicou o ministro das Comunicações e aqui se esconde. Se não o fizer, estará sendo desonesto politicamente”, atacou.
Golpe e PL da Anistia
Ao final da entrevista, Ricardo Coutinho fez duras críticas aos responsáveis pelos ataques antidemocráticos ocorridos no fim de 2022 e início de 2023, incluindo o 8 de janeiro. Ele citou os nomes de generais e políticos ligados ao ex-presidente Bolsonaro e defendeu que não haja anistia para os envolvidos.
“Montaram um plano para assassinar o presidente, o vice, o ministro Alexandre de Moraes. Não foi um ato isolado. E, na história do Brasil, todas as vezes que houve anistia, foi incentivo para novos crimes contra a democracia”, afirmou. Para ele, o PL da Anistia é “um dos temas mais graves em discussão hoje no país”.
Ricardo também questionou a atuação do deputado Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara dos Deputados, em meio às críticas da direita e à sua posição de liderança nacional. “Sabemos que ele está na presidência com apoio de vários partidos, tanto da direita quanto da esquerda”, observou.
Ao longo da entrevista, Ricardo Coutinho reforçou seu compromisso com a democracia, com o projeto de Lula e com uma política de coerência. “Quero que todo mundo apoie Lula, sim. Agora, que seja sincero. Porque falta de sinceridade é falta de honestidade”, concluiu.