Uma ação trabalhista movida por uma funcionária do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, trouxe à tona graves denúncias contra a administração da instituição. Danielle Almeida da Silva, afastada de suas atividades para tratar de transtornos psiquiátricos, acusa o hospital de assédio moral, acúmulo de funções e negligência quanto às condições de trabalho. No processo, ela solicita uma indenização de R$ 162.370,34 e o reconhecimento de sua rescisão indireta.
Contratada em 2015 como auxiliar administrativa, Danielle relata que, a partir de 2020, foi obrigada a assumir funções de coordenadora de lavanderia sem qualquer alteração no registro da carteira de trabalho ou aumento salarial. Além disso, a redução do quadro de funcionários teria agravado a sobrecarga de trabalho, obrigando-a a realizar atividades como costura, serigrafia e transporte de roupas hospitalares para lavagem em outras unidades.
A funcionária também acusa suas superiores, identificadas no processo como Janine e Amanda, de praticarem assédio moral. Segundo os relatos, Danielle foi alvo de perseguição, críticas públicas e até ridicularização em diversas ocasiões. O processo detalha casos em que a equipe teve o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) restringido, colocando a saúde de todos em risco. Danielle afirma que precisou comprar materiais de proteção com recursos próprios para garantir a segurança no setor.
Danielle desenvolveu graves problemas de saúde mental devido às condições de trabalho, incluindo depressão e ansiedade, conforme diagnóstico médico. Em 2023, ela foi afastada e passou a receber tratamento psiquiátrico, incluindo o uso de medicamentos controlados. A funcionária está incapacitada para retornar às atividades e solicita que a Justiça reconheça a rescisão indireta do contrato, devido às faltas graves cometidas pela instituição.
Entre os pedidos feitos no processo estão o pagamento de diferenças salariais pelo acúmulo de funções, adicional de insalubridade em grau máximo, horas extras não pagas e uma indenização por danos morais no valor de R$ 40 mil. Além disso, Danielle reivindica a estabilidade provisória garantida por lei a trabalhadores que desenvolvem doenças ocupacionais.
Escândalo no Padre Zé
O Hospital Padre Zé, em João Pessoa, tem enfrentado uma série de escândalos envolvendo seu ex-diretor, padre Egídio de Carvalho Neto, acusado de desviar recursos da instituição filantrópica. As investigações revelaram um esquema de corrupção que teria desviado mais de R$ 140 milhões ao longo de uma década.
Em setembro de 2023, padre Egídio renunciou à direção do hospital após denúncias de furto de celulares doados pela Receita Federal, que seriam vendidos em um bazar beneficente para arrecadar fundos para a instituição. Posteriormente, descobriu-se que os aparelhos foram vendidos, e o dinheiro teria sido entregue ao padre em espécie.
Em outubro de 2023, a Operação Indignus foi deflagrada para investigar o desvio de verbas no hospital. As apurações indicaram uma confusão patrimonial entre os bens do hospital e os pessoais do padre, que teria adquirido diversos imóveis de alto padrão e bens de luxo, como vinhos caros e cães de raça, utilizando recursos desviados da instituição.
Em novembro de 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a prisão preventiva de padre Egídio, acusado de chefiar uma organização criminosa especializada no desvio de verbas destinadas à prestação de serviços de saúde à comunidade carente.
Em novembro de 2024, o Ministério Público da Paraíba apresentou uma nova denúncia contra o ex-diretor e outros envolvidos, ampliando as acusações de corrupção e desvio de recursos públicos.
Confira o documento:
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