Condenado à prisão por crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro no chamado Caso Desk, o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos-PB) foi um dos parlamentares que votaram favoravelmente ao Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado pela Câmara dos Deputados e que segue agora para análise do Senado Federal.
A proposta altera regras centrais do Código Penal e da Lei de Execução Penal, modificando a forma como juízes calculam penas, disciplinam a soma de condenações e autorizam progressões de regime. Na prática, juristas e membros do Ministério Público apontam que o texto cria brechas que podem resultar na redução do tempo efetivo de prisão para condenados por crimes graves, inclusive corrupção.
Ruy Carneiro responde a processo criminal por irregularidades cometidas quando era secretário estadual, envolvendo fraude em licitações e desvio de recursos públicos. Em decisão recente, o Tribunal de Justiça da Paraíba manteve sua condenação a mais de 12 anos de prisão, embora o processo ainda não tenha transitado em julgado.
Mesmo nessa condição, o parlamentar votou a favor do PL da Dosimetria, que altera pontos sensíveis da legislação penal. Entre eles, a limitação da soma de penas em casos de concurso de crimes, a redução dos percentuais mínimos para progressão de regime e a ampliação das hipóteses de remição de pena, inclusive em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico.
Especialistas alertam que o projeto enfraquece o rigor penal ao substituir a soma integral das penas por acréscimos proporcionais, o que pode reduzir significativamente condenações em processos complexos, comuns em crimes de colarinho branco. Outro ponto criticado é a diminuição do tempo mínimo exigido para que o condenado deixe o regime fechado, mesmo em crimes considerados graves.
A votação expôs uma contradição política. Enquanto a sociedade cobra maior rigor no combate à corrupção, parlamentares com histórico judicial delicado participaram ativamente da aprovação de uma proposta que, segundo críticos, favorece justamente quem já foi condenado ou responde a ações penais.
O projeto foi aprovado em meio a críticas de entidades jurídicas, que classificam a medida como um retrocesso no enfrentamento à criminalidade organizada e aos crimes contra a administração pública. Para essas instituições, a proposta atende mais aos interesses de réus e condenados do que ao princípio da responsabilização efetiva.
Agora, o texto segue para o Senado, onde pode sofrer alterações. Caso seja aprovado sem mudanças e sancionado, a nova regra poderá impactar diretamente condenações em curso, inclusive processos semelhantes ao que envolve o próprio Ruy Carneiro.







