O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltou ao centro de uma tempestade política ao tentar transformar em conquista o que especialistas e analistas têm classificado como um dos maiores desastres legislativos recentes: a condução do Marco Legal de Combate ao Crime Organizado. A avaliação mais contundente veio do colunista Josias de Souza, que apontou que Motta “tira a conclusão errada com extraordinária segurança” ao comemorar o debate que ele próprio intoxicou.
Segundo a análise, o problema não está apenas no erro político inicial, mas na incapacidade de Motta de compreendê-lo. O deputado publicou nas redes que o tema “tomou conta das conversas, das redes e da imprensa”, enxergando nisso uma vitória. Para críticos, a declaração expõe três características que vêm marcando sua gestão: cegueira para os fatos, surdez para as críticas e desorientação diante das consequências.
O desgaste começou quando Motta escolheu Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do projeto. A opção provocou reação negativa imediata, não apenas pelo perfil do escolhido, mas pela sucessão de relatórios produzidos às pressas, quatro textos em apenas seis dias, todos recebidos com forte rejeição. Ainda assim, Motta insistiu em tratar a crise como um “debate saudável”, ignorando o fato de que foi sua condução que detonou a confusão.
A análise aponta que, ao tentar explicar a reação ao projeto, o presidente da Câmara misturou percepções, distorceu o papel das críticas e se comportou como se estivesse acima da realidade. Para piorar, Dobrou a aposta: quer levar ao plenário mais um relatório, o quinto, mantendo o ritmo frenético que aprofundou o impasse.
A crítica central é que Motta, em vez de usar a proposta original do governo Lula como ponto de partida para construir uma política séria e articulada contra as facções criminosas, optou por reduzir o debate à repetição automática de slogans sobre endurecimento de penas. Uma estratégia que costuma render manchetes fáceis, mas não resultados efetivos.
A condução acelerada, tratada como demonstração de força política, vem sendo avaliada como sinal de fraqueza. Segundo analistas, Motta tenta transformar o caos em narrativa de liderança, mas acaba expondo justamente o contrário: desorganização, falta de leitura de cenário e uma aposta perigosa na pressa como método.
Com o desgaste acumulado e a pressão crescente, a tendência é que, quando o projeto fracassar ou precisar ser reconstruído, o próprio Hugo Motta volte ao discurso conhecido de que “faltou endurecimento”. Até lá, porém, já terá deixado mais um rastro de confusão em um dos temas mais sensíveis da agenda nacional.









